Como sabem apreciadores dessa fruta da América do Sul, o abacaxi é difícil de descascar. Vencida essa etapa, pode ser um grande prazer. O ministro, GARIBALDI Alves, admitiu não ter currículo para cuidar da Previdência e ter sido avisado que lá tem problemas, um "abacaxi". Louve-se sua sinceridade. Outros, sem currículo, fingem de sabidos. Saber que não sabe é um bom primeiro passo.
Jornalistas perguntam a quem sabe. O ministro poderia seguir essa receita inicial simples. Lá no Bom Dia Brasil convidamos ontem um dos especialistas em previdência, Paulo Tafner. Ele vem estudando o tema há anos, e escreveu recentemente, com Fábio Giambiagi, um livro sobre esse dilema que o Brasil se recusa a encarar. Deu alguns dados interessantes.
A Previdência custa ao Brasil R$ 300 bilhões por ano. Tudo com nossos impostos. Isso é 12% do PIB. E aí, a primeira contradição. Como o Brasil é um país ainda jovem, não faz sentido gastar o mesmo percentual do PIB, ou até mais, que países que têm uma população mais velha.
Outra constatação: vamos envelhecer. Isso é bom, já que estamos aumentando a expectativa de vida. Mas temos sido imprevidentes - desculpe o trocadilho óbvio - ao não fazer as reformas incontornáveis que temos pela frente. São todas espinhentas e por isso os políticos vão deixando para depois, sabotando as propostas que o governo envia, ouvindo mais os lobbies.
O ministro deveria olhar o longo prazo. Ministros da Previdência que não descascaram esse abacaxi há muitos na História. O que conseguir levar o país a provar o melhor do abacaxi pode enfeitar seu currículo: a fruta é meio flor, da família das bromélias.
Previdência não é apenas custo. Pode ser poupança, renda, garantia de um futuro de maior estabilidade, gás para investimento. Isso se ficar bem equacionada a questão fiscal e houver incentivo para que as pessoas se preparem para a maturidade.
Hoje, o Brasil é um dos poucos países do mundo sem idade mínima de aposentadoria. Uma insensatez. Países ricos estão elevando a idade mínima, e nós nos damos ao luxo de sequer estabelecer esse limite. Resultado: os brasileiros ainda se aposentam cedo demais. O pior é que o pobre demora mais a se aposentar porque não consegue provar tempo de contribuição. É um direito inversamente proporcional à renda.
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