02 janeiro 2011


Senhora Presidente,

Confronto-me, entretanto, com a primeira e angustiante dúvida. Onde encontrar forças para enfrentar tão grande desafio, que chega ao paroxismo de pretender domar as paixões da alma humana, cujas fragilidades não se podem ocultar, e sou a primeira a confessar?

No meu aprendizado na administração de Mossoró, todavia, e depois no exercício do honroso mandato de Senadora da República, que me foi confiado pelo generoso reconhecimento do povo do Rio Grande do Norte, pude comprovar que a dedicação à causa pública nasce dos mais nobres sentimentos pessoais, que cumpre estimular na cidadania. E a verdadeira cidadania é superação das tibiezas pessoais da alma.

A sociedade organizada e o civismo individual são indispensáveis ao êxito dos bons propósitos dos organismos públicos, cuja tarefa mais urgente é esta: devolver a autoestima aos cidadãos, despertar neles a consciência de parcela viva e atuante do ser coletivo, e incentivar em cada um suas potencialidades de serviço.

A justiça social não se realizará enquanto alguém tiver o monopólio do mando, nem mesmo se este alguém for o Governo legal, porque nada do que é só é social.

Todos se devem incorporar ao aprendizado de uma nova missão, porque não temos o direito de ocultar que tortura os ouvidos da alma o grito amargurado dos excluídos dos favores da sociedade, no abandono dos campos e das periferias das cidades.

Há, sim, sofrimento anônimo de milhares de norte-rio-grandenses e brasileiros, e esta é uma dor de irmãos. Para apaziguá-la, a todos eles faço a doação de meu trabalho permanente, e a eles entrego e dedico todas as ações do novo Governo do Rio Grande do Norte.

Para o êxito dessa doação e dessa entrega, conto com o apoio de cada um dos norte-rio-grandenses, especialmente dos que são afortunados pela segurança de emprego e trabalho, dos bem estabelecidos na vida, dos já aquinhoados pela ainda tão injusta distribuição da riqueza nacional.

Aflige a injustiça crua da criança nas ruas, perdida até para a quimera lúdica de algum futuro; a vida sem luz do analfabeto, a quem se nega compartilhar o patrimônio das gerações; o intenso e crescente sentimento de estorvo, atormentando a mente de quem já tem dilacerado o corpo pela doença sem médico, sem hospital, sem remédio; as famílias desfeitas pela droga; a dignidade maltratada pelo desemprego; o inocente perseguido pela violência impune; os cidadãos desencantados com sua terra, sua gente, sua vida.

Tudo isso aflige, pois são brasas ardentes, que não brilham, mas ferem.

Ferem pela cúmplice indiferença, e sarar tais feridas nas almas dos pobres, e de todos os que vivem carentes de segurança, paz e justiça, é dever precípuo, permanente e único, da Administração que hoje se inicia.

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