06 janeiro 2011


Em breve, a população brasileira vai parar de crescer. Haverá menos jovens entrando no mercado de trabalho dentro de vinte anos. Junte-se a isso o fato de que os brasileiros viverão mais e está feita a confusão: menos gente pagando, mais gente recebendo por mais tempo. A conta não fecha, ministro!

Pode conversar, também, com demógrafos da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Ence, do IBGE. Vá também ao Ipea, mas cuidado para falar com as pessoas certas. O instituto já não é o que foi.

Tafner, que é do Ipea, apesar de estar agora trabalhando na secretaria de Fazenda do Rio, tem dados sempre impressionantes. Seu novo estudo com Giambiagi - outro brasileiro devotado à espinhosa causa de descascar esse abacaxi - mostra que para que a conta da previdência fique estável, como proporção do PIB, o país terá de crescer em média 4,7% ao ano por 30 anos. Difícil, ministro. Nos últimos 20, mesmo contando o PIB do ano passado, foi metade disso.

Uma lasca da casca pode ser tirada com facilidade. O governo Lula aprovou a reforma da previdência do setor público. E não regulamentou. Com isso, o país perdeu oito anos. Quando a reforma for regulamentada, pode ajudar a construir mecanismos de poupança de longo prazo.

Os casamentos intergeracionais - ou seja, pessoa mais velha casando com outra bem mais nova - têm se tornado mais frequentes. Não, não falo de certo casal conhecido. Falo em geral. Esses casos estão elevando custos previdenciários porque as pensões são pagas por mais tempo. Outros países já desenvolveram soluções para que a conta não acabe nos cofres públicos.

Como integrante de uma família longeva na política, o ministro da Previdência há de saber que só há uma forma de saborear o abacaxi: descascando-o. É isso, ou fingir que não há déficit, distribuir cargos e benefícios para amigos e aliados. Pode dar ganhos de curto prazo ao ministro. Para o país, será mais um passo na marcha da insensatez.

Miriam Leitão
“O Globo", 06/01/11




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